Olhar é um ato de escolha. Ver
precede as palavras. A criança olha e reconhece, antes mesmo de poder falar.
Mas existe ainda outro sentido no qual ver precede as palavras: o ato de
ver que estabelece nosso lugar no mundo circundante. Explicamos esse mundo com
palavras, mas as palavras nunca poderão desfazer o fato de estarmos por ele
circundados. (...) A maneira como vemos as coisas é afetada pelo que sabemos ou
pelo que acreditamos. Contudo, essa visão que chega antes das palavras, e que
quase sempre nunca pode ser por elas descrita, não é uma questão de reagir
mecanicamente a estímulos.
(...) Nunca olhamos para uma coisa
apenas; estamos sempre olhando para a relação entre as coisas e nós mesmos.
Nossa visão está continuamente ativa, continuamente em movimento, continuamente
captando coisas num círculo à sua própria volta, constituindo aquilo presente
para nós do modo como estamos situados. Olhar é um ato de escolha. (BERGER, J. Modos de ver. RJ: Rocco,1999,
p.9-11)
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